Marcia Tiburi

Gosto da Marcia Tiburi e do que ela diz, mesmo que muitas vezes o que ela diz escape. A primeira visão/audição dela foi no programa Café Filosófico, e o que mais me chamou atenção no seu discurso foi a recorrência exaustiva a fontes literárias para sustentar o que dizia/pensava. Daí em diante a trajetória dela como pensadora pop foi meteórica. Márcia também é escritora e até o momento não a conheço como tal, mas não por falta de curiosidade.

Tiburi esteve na Unifor e, sem pensar duas vezes, fui vê-la. A fala dela era "A Mulher no Sertão e o Sertão em Nós: Cinema e Literatura." Vi a palestrante no hall do auditório da biblioteca. É uma mulher menor do que eu imaginei, mas se destaca num figurino minimalista, chic-despojado (chic é cheio de "meanings" aqui). Ela tinha pressa e passou a ler no laptop o que havia escrito para a conferência. Não sem antes de deixar bem claro que não dominava o assunto. E então a leitura iniciou-se.Apesar de falar muito rápido, ela começou de forma brilhante. Seu foco, às vezes parecia serem vários, era a figura feminina/masculina de Diadorim no clássico Grande Sertão Veredas de Guimarães Rosa. Recorreu à antiga mitologia dos gêneros, de quando os seres eram bissexuais. A personagem Diadorim é uma mulher que se traveste de homem/jagunço, e junta-se a Riobaldo (personagem principal) para levar adiante o plano pessoal de vingar a morte do pai. Como observou Marcia, até mesmo a motivação para o travestimento sexual do personagem é algo do universo masculino, ou seja, a vingança. O perdão é feminino. Ocorre que Diadorim morre no final do romance e só então descobrem que ela não era um homem, mas uma mulher. É quando entramos num território familiar, mas de complicada apreciação: morte x gênero sexual; feminino = morte; encenação da morte <> distinção dos sexos <> fazer pensar; masculino (Riobaldo) = vítima da falta de mistério.

Principalmente por prescindir do que sempre cola suas idéias e sustenta o seu discurso, as referências dialogando com o pensamento que se processa, Marcia pontuou temas de grande relevância e interesse mas não os integrou nem finalizou como se esperava.

Tarco Lemos