29 abril 2008

O que seria de alguns filmes se não fosse a trilha?

Quando a música nos toca levando às lágrimas, aparentemente sem razão, não choramos, como Gravina supõe, por ‘excesso de prazer’; mas pelo excesso de uma impaciente e petulante dor que, ainda meros mortais, não estamos em condições de desfrutar completamente tal êxtase sublime; a música nos permite apenas um indefinido vislumbre.

Edgan Allan Poe (Tradução minha)

Once fica só na trilha. O filme se perde nela. Mas e outros filmes? Closer saiu ganhando. A trilha de Juno é colagem e funciona tanto quanto minhas capas de caderno - eu fazia recortes e meu critério era apenas bizarre beauty. A música cola os filmes da Sophia Coppola, tipo Lost in Translation.


Mas tem tanta coisa mais pra se falar/calar em música...

Debussy ambienta bem um restaurante self-service cheio de velhinhas. Mozart é a cara de restaurante oásis, aqueles que nos surpreendem no meio do nada durante viagens longas; garçons ainda mais posudos ao verem tuas havaianas empoeiradas. A música aquieta a conversa, nos concentramos sem querer nos sons, tilintares, passos. A própria comida sendo destrinchada entre os dentes vem à tona. E enfim, por um segundo mínimo, entre faixas de um compact disc rodopiando alucinado sobre o laser, a apoteose do silêncio.

Tarco Lemos

Nenhum comentário: