06 abril 2009

A vida é dura...

...Eu nunca sonho. Beijaria cada uma das coisas que eu julguei ter tido. O cheiro me dá poder.

Essas frases foram tiradas do filme O cheiro do Ralo, do diretor Heitor Dhalia. É o mesmo diretor de Nina, filme anterior e com inegáveis feições de parentesco. A afinidade com o grotesco, o desvio assumido de caráter, a perversão como passatempo preferido, a morte como punição por levar às últimas a sacanagem com gente frágil, invariavelmente mergulhadas no vício, são algumas aproximações.

A fragilidade de Nina e da viciada de O Cheiro as torna vulneráveis à humilhação. Humilhar é a maior diversão para Lourenço de O Cheiro e para Eulália de Nina. Os dois filmes se originaram a partir de obras literárias. Nina foi concebido graças a Crime e Castigo, célebre romance de Dostoievski, e O Cheiro do Ralo é a adaptação do romance homônimo de Lourenço Mutarelli.

Nina é um drama protagonizado de forma apaixonada por Guta Stresser. Já O Cheiro do Ralo pende para a tragicomédia, do tipo que ou você cai na gargalhada ou apenas dá um ou dois sorrisos de Monalisa. Eu ainda não me controlo quando lembro das cenas com a atriz Sílvia Lourenço, que faz uma viciada no filme. Riso histérico. Selton Melo é o ator principal e também se entrega ao personagem de forma emocionante. O bizarro paira no filme, uma presença magnética, que lembra aquela dos filmes de David Lynch. Um diretor de filmes em que sempre se sonha. Quase sempre pesadelos.

Tarco Lemos

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