13 setembro 2011

Never Let Me Go

Um grupo de alunos canta no coral da escola. São crianças saudáveis e, pelas roupas e cenário, parecem estar num passado próximo, década de 60 ou 70. Precisamente, o ano é 1978. Após a apresentação, a diretora da escola ou orfanato informa que foram encontrados três filtros de cigarros. Ela alerta aos pupilos sobre a importância da saúde de seus corpos, isso era fundamental e assim, mesmo que presenciassem adultos fumando, não poderiam fazer o mesmo.

Nessa escola, um dos meninos é caçoado. Os colegas gostam de ver sua reação quando contrariado: ele para um instante e depois grita pro ar. Uma colega simpatiza com o jeito avoado dele e com isso eles se aproximam. O menino gosta de desenhar e pintar. A menina é criativa também e tem uma expressão bem madura. Num dos ataques do menino, frustrado por causa do resultado de suas pinturas, uma professora se aproxima e o tranquiliza. Ela diz que não importa se ele consegue ou não ser criativo. A menina, muito esperta, pondera com ele sobre a questão, pois se ser criativo era algo sem importância, porque existia a galeria de arte, onde os melhores trabalhos iam ser expostos?

Uma segunda menina entra na história quando percebe a ligação entre o casalzinho. Ela se interpõe entre os dois e acaba roubando da outra o rapazinho, que passa a namorá-la. Certo dia, a professora, que disse ao menino para não levar a criatividade muito a sério, fala sobre o futuro. As pessoas se tornam várias coisas. Seguem profissões as mais diversas. Viajam. Têm filhos. E, subentendidamente, morrem. Mas esse ciclo de eventos não seria vivido por nenhuma daquelas crianças. Em poucos anos, quando completassem a idade ideal, no início da vida adulta, cumpririam a função para a qual foram geradas: doar órgãos. Eles não passam de clones (cópias), cuja sobrevida raramente chega a uma terceira cirurgia de retirada.

Essa é parte da história angustiante do filme Never Let Me Go (Não Me Abandone Jamais) (2010), do diretor Mark Romanek e adaptado da obra homônima do inglês Kazuo Ishiguro, em cartaz somente agora em sessão única às 19h30 no Iguatemi.  

Esse tipo de ficção científica, bem comum na literatura inglesa, geralmente descreve um mundo de pesadelo no futuro. Na história em questão, esse mundo distópico (oposto de utópico), situa-se em nosso passado recente. A atuação de Carey Mulligan (prazer em conhecê-la), perturba, emociona, arrasa, faz doer aquele órgão inexistente comum a seres humanos (não-sociopatas). Faz você sentir vontade de ir o mais rápido possível ao encontro de alguém querido e dar um abraço.

Tarco Zan 

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