Acompanho a página desde o início do ano e é impressionante o número de traduções de grandes obras da literatura universal que são surrupiadas por editoras inescrupulosas. Elas reeditam traduções antigas como se fossem novas, alterando o nome dos tradutores, algumas vezes "criando" tradutores-fantasmas ou simplesmente editam plágios, com pequenas mudanças para disfarçar. Agem, portanto, de má-fé. Segundo a tradutora blogueira, algumas dessas editoras ameaçaram processá-la ou a processaram de fato. De qualquer forma, ela é uma profissional reconhecida e o seu trabalho, mais nítido nos blogs, fala por si mesmo.
Os casos de plágios de tradução são crimes e Denise presta um inestimável serviço à sociedade. Mas eu mencionei a vontade que dá de copiar a boa execução de seus blogs tendo em mente uma visão estética. O desejo de repetir/copiar/duplicar/eternizar a beleza. Clarice Lispector exemplificou bem essa tendência quando citou sua leitura de O Lobo da Estepe, de Herman Hesse, como o seu despertar de escritora. Ela disse que apôs ler o romance ela disse "eu também quero" fazer literatura. Outro exemplo é Leonardo, que perseguia homens e mulheres pelas ruas de Florença, hipnotizado pela beleza de olhos, cabelos e corpos, ávido por desenhá-los.
O blog http://abiografiadovangogh.blogspot.com.br/ é uma beleza. Ele foi feito para registrar o trabalho de tradução de uma biografia de Van Gogh. É impossível não se interessar pelo livro, como também é impossível não se sentir seduzido pelo universo da tradutora, que realiza um trabalho de pesquisa colossal dando a impressão de ser tarefa simples. Através desta página, fiquei sabendo que Van Gogh não se suicidou. Lembro que neste semestre mencionei o suicídio em sala de aula, quando falávamos de insanidade (mulheres que destoam do padrão de "normalidade" estabelecido são facilmente consideradas loucas enquanto que homens - eis o exemplo - destoantes são facilmente reconhecidos como seres atormentados pela genialidade): discutíamos Jane Eyre, de Charlote Brontë.
Outra autora que trabalhei em sala no semestre recém-concluído foi Katherine Mansfield, e justamente as traduções de alguns de seus contos. Eis que Denise construiu um blog sobre: http://kathmansfield.blogspot.com.br/. É uma pena não ter lido e pesquisado a página no decorrer do semestre. Teria enriquecido muitíssimo as discussões e leituras. Neste blog, fui tomado por um sentimento próximo ao desejo estético. Uma espécie de familiaridade, compreensão, solidariedade, reconhecimento: "eu conheço essa dor" ou "essa dor também é minha!". É um comentário simples e genial. Denise posta o seguinte: "Uma das tristezas da vida de tradutor é ter de traduzir passion-flower e passion-fruit por maracujá".
Antes da leitura destes blogs eu já havia ou retomado ou iniciado projetos pessoais em blogs, como http://ailsonls.blogspot.com.br/ que a querida amiga Paola encontrou por acaso no limbo virtual e que eu havia esquecido por completo - não reconheci como meu inicialmente -, e reciclei para registrar a prática de professor e coisas afins. Já o blog http://onudefrankenstein.blogspot.com.br/ decidi fazer para ir registrando textos mais longos sobre minha parte pesquisador.
E o traças continua como uma colcha de retalhos que aquece principalmente a amizade, a admiração e a tara sadomasoquista pela literatura. Em breve, plagiaremos o inexistente blog de poesia da Bethânia (do nosso jeito).
2 comentários:
que encanto, muito obrigada!!!
Nós que agradecemos, Denise, por seus blogs maravilhosos!
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