03 março 2006

Dois... Um

No começo, eram como o sol e a lua, sequer notavam a avidez ou a alvura, não havia reciprocidade. O tempo transcorreu. A soturnidade, aos poucos, arrefecia a vivacidade, assim como rompida uma força ígnea, a neve desfalece e traz de volta a luminosidade, o calor e o viço. Forças opostas: o homem e a mulher. Um verdadeiro paradoxo. Mas até quando duas forças essenciais permanecem alheias? Até os sentidos se tocarem, até as almas se fundirem!

Desse modo, aqueles que antes nem se apercebiam agora se atraem intensamente. O belo mancebo, entusiasmado pela candura da moça, faz promessas de um amor puro e sem máculas, enquanto, na verdade, surgem luxuriosos pensamentos. A jovem, ao invés de jurar todo o seu afeto, timidamente toca a tez do rapaz com seus lábios trepidantes. Bruscamente, ele a toma em seus braços libidinosos. Replicante, ela grita, mas é interrompida com um resfolegante beijo e logo derrama uma lágrima... De pejo.

A donzela se culpava intimamente, contudo, nada lhe podia conter naquele instante. Demonstrava estar sedenta. Seus olhos fechados, apertados, pareciam desvendar sua paixão entorpecida. Toda a sede era saciada em delírios com saliva. Entregava-se ao gozo sem perceber que, desnorteada pela insensatez do próprio instinto, revelava-se em desejo.

Eis que o pecado se uniu à virtude, assim como a unha se uniu à carne e o divino ao infernal.
E, assim como a água enegrece, o fogo purifica.


Pal

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