26 junho 2006

ANTES DO ATENTADO

O atentado não foi planejado. Foi coisinha simples, porém legítima. Era como se um árabe cheio de esperança, feliz da vida, vagando por Bagdá destruída, avistasse um americano branquelo dando sopa, fumando cigarros, pensando na câmera digital que compraria logo que saísse daquele inferno e chegasse em casa. O árabe sem nada premeditar, vendo o outro jovem desprotegido, degola-o em protesto-ódio, que é pra ver se espanta aquela gente alienígena da terra dele. Algo legítimo.

Nosso atentado foi assim, ao ver uma porta repleta de referências, e vulnerável, atacamos em protesto-amor, acrescentando-nos em auto-referência. Mas houve o antes disso. Antes de chegar à porta do ataque, passamos por um quase vasto prado de nostalgia. Lá tinha Paul McCartney antes de formar os Beatles nos fazendo ficar à vontade. Não era Paul, mas a cara-sósia dele, o atendente da loja que vende antigas e raras bolachas em vinil, assim como cópias destes discos em cê-dês. Em seguida ouvimos a eterna beatle-maníaca-lost-generation canção Strawberry Fields Forever. Linda e melancólica e para sempre. Ela, Paola, tinha morangos nas mãos. Tudo evolvendo em conspiração. Na hora deu vontade de ver um campo infestado de morangos. Será belo e melancólico e eterno? Talvez o ar dos anos em que o sonho ainda era vivo nos inspirou o protesto-ataque-intervenção-sonho.

Tarco Zan

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