17 março 2008

INCONSOLÁVEL



Um consolo de pedra era uma arma na mão. Já estava com o órgão armado, quando depositou seu amante sem corpo no chão. Nem deixou de enrijecer, tinha potência natural a defender-lhe da frieza humana.

Ele nu, ensebado, sem ver gente há mais de ano, realizava uns rituais esdrúxulos de onanismo religioso. Endeusava os moldes fálicos dentro de casa como quem se prostituía indo a templos. Um pobre pagão a pagar pelos seus pecados... A hora do martírio transformava-se em delírio masô, em que a posição bem quista era virar-se na direção de Necas e sentar-se com todas as forças nalgum pênis de pau oco.

Um dia a fé foi tanta no sexo do divino, que preparou àgua benta seminal imbuída ao mijo sacropântico de noites enluaradas e se banhou no quintal com todos os líquidos. Fez sereno. Extasiou-se e manipulou suas carnes por 33 minutos contados num relógio de areia. Prestes ao gozo, tomou uma lâmina, afiou seu gume no solo e decepou seu prepúcio. A dor tamanha só iria lhe propiciar prazer Absoluto substituindo-a por outra mais alta. Então subiu sangrando até o cume do imenso falo esculpido em seu jardim e sentou-se profundo como quem é crucificado. Sentiu o peso do cravo a perfurar o punho anal. Espasmou e dormiu, eterno após o ato. Medieval.

Paola Benevides

Em alguns mitos, pode parecer que a castração seja o resultado desejado da história e que o que está por trás dela é uma profunda inveja da criatividade feminina. (Ivan Ward)

O submisso percebe o engodo do pênis. Uma identidade que não é a sua, mas de uma civilização que cultua o pênis. Um vazio. Natural que sua vivência de submissão passe por dois filtros muitos comuns: a castração simbólica (a flagelação e a tortura do pênis) e a despersonalização, quando a falta de identidade o aproxima mais dos animais e dos objetos que de uma figura humana como a mulher.


Desejo Secreto

2 comentários:

Tarco disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Tarco disse...

culpa, falta, divino... o caos que domina tua paisagem é agudo e espatifa essa estufa. traças ao relento.. o gil olha pro horizonte escuro em dúvida se deita e sai rolando ladeira abaixo. zan some. pal bufa cansada?
Big BoBage..