17 abril 2008

A Ampulheta e o Pulha

- HELLo!

- Tou a fim de puxar um.

- É? E eu tava lendo Rimbaud.

- Acho que dormi pouco, tou me sentindo mal também porque me sinto injustiçado. É que me disseram umas coisas... Era pra eu ter contestado!

CONFIDENCIAL

- Quanto absurdo, quanta metidagem à bosta.

- Fui um bunda mole, não sou "vivo"... Só precisava de um risadinha contigo. Vou aí! Tu desce aí a gente fuma na calçada!

- Pera, que horas? Tou fodida de gripe.

- 17? 17h30? 17h40? É, sei... Fica pra después.

- Não queria ter que dizer não, até porque eu nunca digo.

- Acho que não vou aguentar essa porra toda muito tempo não.

- Que tu vai fazer?

- Eu não consigo ver a graça às vezes.

- Que tu quer fazer?

- Não me sinto tranquilo pra apertar o off, fiz porra nenhuma ainda.

- Aguente firme mais um pouco, eu que fiz menos ainda já pensei nisso mais vezes.

- Mas porra, meu cabelo tá caindo... Ninguém faz mais musica que preste, ninguém é cortês, o trocador jogou meu troco que o dinheiro voou!!!

- Não se acabe por uma merda dessas, não se troque com essezinhos.

- Aí eu olhei pra cara de catita dele e disse: valeu TROCADOR! E ele disse: de nada.

- Filho da puta desgraçado, agora entendo porque matam uns aos outros. Sinto vontade mais agora de matar do que de me condenar.

- Sim, mas tem uma coisa...

- Prisão dentro da prisão mundana?

- Estão notando o que só eu notava antes: minha inépcia. Tenho jeito com quase nada, eu queria uma faxina também.

- Não abaixa a crista, só assim vão te valorizar.

- Sei lá, o pior que se for por vírus eu vou também.

- Vírus? O que?? Explica essa porra direito, tu tá enculcado, relaxa.

- É, tipo a europa teve umas ondas de peste que deu pra dar uma equilibrada na quantidade de gente no decorrer da história.

- Caralho, meu professor de filologia falou das utilidades da dengue pra controle populacional mesmo. Ê Brasilzinho...

- Aí eu disse que queria uma faxina, muita gente no mundo, mas ao mesmo tempo eu posso ir junto caso houvesse uma faxina "natural" dessa, um vírus.

- Algumas pessoas tem que morrer, devem morrer. Você não, não agora. Dizem que os bons vão antes, mas não tem nenhum bonzinho aqui... Ou tem???

- Sei lá, tou ficando neurótico, mais até acabei de limpar meu banheiro todo com água sanitária e minha mão tá ardendo.

- Tou cansada. Macho, mania de limpeza exacerbada é TOC? Transtorno de ansiedade PURA.

- Não, ninguém vale o ar que respira.

- Essa porra já matou alguém? Ah, uma bazuca...

- Sim, queria tanto que tu fizesse o troço sobre os suicidas.

- Pára de falar nisso, seu filho da puta!

- Por falar nisso, vi um livro do Stevenson, "o clube dos suicidas".

- Tou lendo Rimbaud, tou curiosa pra ler as cartas de Van Grogue, dizem que se assemelham muito Gogh e Rimbaud, quem disse foi o Henry Miller.

(silêncio)

- Tarco? Pára com isso...

- Não, tu não ia escrever sobre escritores suicidas?

- Acho que preciso escrever um livro e me sentir satisfeito pra só então dizer bye-bye. A gente vai de qualquer forma mesmo...

- Pois é, mas tu quer viver pra ti ou pros outros? Tu ama a ti ou aos outros? Eca, fui bíblica.

- Eu vivo muito pra mim, o pro é que a convivência é uó, o maior problema pra mim por exemplo é minha indiferença em relação aos outros.

- Tenho tanta coisa pra te contar... O quê? Tua indiferença em relação aos outros? Se fosse indiferente não se importaria com o TROCADOR ou com aquelas merdas todas pequenas, eu te conheço, acho.

- Minha relação comigo mesmo é de amor e ódio, tipo atração fatal, Glen Close. E o pro com o cara nao foi a falta de delicadeza dele não, foi a feiúra do todo... Tipo, da pra sentir raiva de um jumento que não faz o que se espera dele? Mas me fala o que você tem pra dizer?

- Jumentos são mal tratados por isso. Eu ia dizer um monte de besteira. Que ando por aí com frio, fome e bêbada, mas tendo conforto dentro de casa. Daí um cara chega do nada na minha vida e me paga uma moto-táxi. Até então nunca tinha andado de moto, e na chuva.

- É, a gente é amparado. (risos)

- Todo mundo me diz agora: 'não anda por aí assim, você pode ser estuprada, violentada, esquartejada'.

- E aí?

- Não ando mais. Quebrou o clima, quebram minhas vontades pelo medo.

- Afinal, o Barra Pesada que o diga.

- Mas a gente fica imune ao medo quando não liga pra vida, eu tava nesse estágio (terminal). Só que não raspo mais a cabeça.

- Bem, risco há.

- Não sou dodói mental não, os outros é que são. Eu só queria minha liberdade, se é que existe.

- Mas eu também, vivo chegando tarde e assombrando o povo que diz que sou corajoso, todo mundo tá com medo.

- Mas quando você não tem dinheiro, você acaba se vendendo, aí me tranco.

- Bem, liberdade custa caro.

- Falando nisso, é caro tudo quando não se é caro aos outros.

- Até o cu, por mais que o doidinho lá diga que nenhum vale mais que 50$.(risos)Se bem que a maioria dá de graça mesmo.

- Quando é por prazer, eu não digo nada.

- Eu também. (risos) O inferno é os outros!

- Por que tu acha que passo o dia dormindo? E a madrugada criando? Porque não tem ninguém por perto assim, pelo menos os que me fazem mal...

- Pra preencher, é...

- E quando esses desgraçados me atingem, o projétil volta bem no olho do cu deles, sofrem o dobro. Eu sou foda mesmo, ando foda!

- Tudo volta tipo um bumerangue e eu nunca li Paulo Coelho.

- É mentira, você leu Verônica Decide Morrer. E eu só li contos rápidos.

- Não foi uma leitura, confesso. Decodificação.

- Mas ele soube jogar o joguete e se deu bem. Ele deu o cu pro capeta e conseguiu ficar famoso.

- Tá, todo mundo gosta do cara, nao vou esculachar, não li, bem, pois é, fez um ótimo negócio.

- Odeio a falinha dele, por aí tu tira que é um fraco, mas mesmo assim deu o cu pro demo. Tá bom, eu me calo. Tou aparentemente na flor dos nervos e tou aqui com aquela cara pacotária.

- Odeio ele representar o Brasil lá fora... Porra, todo país fudido da América do cu tem um nome de respeito: Garcia Marquez, Borges, Neruda... Que foi?

- Delay, não Dejavù. O tempo me afeta pra caralho. Se eu morrer e for cremada, ponha as cinzinhas numa ampulheta, faz favor.

- Parece que a Xuxa também, me garantiram que dá pra ouvir o satan no hilari-Ê até baixando da net. E a ampulheta? Tua mãe nao vai deixar.

- Sei lá, se bobear ela vai antes (por ordem de chamada). Não queria...

- Mas eu dou um jeito de te desenterrar e queimar.

- (risos) Até a última ponta? Vai, me fume!! Mifume, era um personagem japonês dum livro que li daquele bruxo que tive um causo amoroso.

- De repente eu injeto com um pouqinho de heroína pra ter uma visão do mundo através dos teus olhos, já pensou que louco?

- (risos e risos) I'm a Super heroin!

- Aí eu papoco numa overdose de papoula... Puta que pariu, dei uma cheirada na minha toalha molhada chega fiquei tonto.

- Tou com dor de cabeça.

- Te precisava demais.

- Bora ver Edith Piaf semana que vem?

- Sim!

- Olha, by Henry Miller - "A História dos assassinos" - estudos sobre Rimbaud. E na capa do livro tem uma ampulheta, sincronicamente.

(...)

Paola Benevides e Tarco Lemos

2 comentários:

Chaz disse...

- Até o cu, por mais que o doidinho lá diga que nenhum vale mais que 50$.(risos)Se bem que a maioria dá de graça mesmo.


aeuhaueha


nooooooossa que doidera esse blog

vou verificar mais vezes ;]


tbm queria fumar um
mas tenho que sair do trampo priemeiro


tchau

Tarco disse...

shit