12 junho 2008

Joycera

Dublin 3 de dezembro de 1909.

Nora,

Você parece me transformar num bicho. E foi você mesma, menina safada e maliciosa, quem tomou a iniciativa. Não fui eu quem deu o primeiro passo lá em Ringsend. Você deslizou sua mão pra dentro das minhas calças, puxou minha camisa e tocou meu pau com seus dedos longos e suaves, e aos poucos o tomou por completo, grosso e rijo como estava, na sua mão e bateu bem devagar até eu gozar nos seus dedos; o tempo todo você debruçando-se sobre mim e fitando-me calmamente com seus olhos de santa. Também foi de seus lábios que saiu a primeira palavra obscena. Lembro bem daquela noite na cama em Pola.

Cansada de deitar debaixo de homens uma noite, você rasgou seu vestido violentamente e montou sobre meu corpo nu. Você enfiou meu pau na sua boceta e passou a me cavalgar, pra cima e pra baixo. Talvez minha ereção não tenha sido suficiente pra você pois lembro de você bem perto do meu rosto murmurando ternamente “me fode, amor! Me fode, amor!”

Nora querida, estou morrendo de vontade de perguntar umas coisas. Permita querida, pois eu já lhe contei tudo que fiz na vida. Agora é a sua vez. Quando aquele cara (Vincent Cosgrave), quem eu gostaria de ver morto, colocava a mão, ou as mãos, debaixo de sua saia, ele acariciava somente o lado de fora ou ele enfiava o dedo (ou os dedos) em você? Se sim, chegou ele a tocar aquele botãozinho lá no final? Ele te tocou por trás? Ele demorou tocando você, te levando ao gozo? Ele te pediu pra tocar nele, você obedeceu? No caso dele não ter te tocado, ele encostou em você? Você o sentiu?

Outra pergunta, Nora. Eu sei que fui o primeiro homem a te prender mas algum outro já te comeu? Aquele garoto (Michael Bodkin) que você gostava alguma vez transou contigo? Me diz Nora, verdade por verdade e honestidade por honestidade. Quando você estava com ele no escuro à noite, você nunca lhe abriu as calças desabotoando-as e deslizou os dedos pra dentro? Você bateu uma nele, querida, diga-me sinceramente, ou em algum outro? Você nunca pôs o pau de um homem ou de um garoto nas mãos até o dia em que você me encontrou? Se você não se ofender, não tenha medo de me dizer a verdade. Querida, querida à noite sinto um desejo tão violento pelo teu corpo que se você estivesse aqui ao meu lado e dissesse que metade da plebe rude do condado de Galway deitou com você antes de mim, mesmo assim eu me lançaria cheio de desejo pra você.

JIM

Carta de James Joyce para Nora.

Tradução: Tarco Lemos

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