07 julho 2008

Blind Pew


Longe do mar e da formosa guerra,
Que assim o amor todo o perdido louva,
O bucaneiro cego fatigava
Os terrosos caminhos da Inglaterra.

Escorraçado pelos cães das granjas,
Caçoada dos meninos do povoado,
Dormia um enfermiço e gretado
Sono no enegrecido pó das sanjas.

Sabia que em remotas praias de ouro
Era seu um recôndito tesouro
E isso serenava sua adversa sorte;

A ti também, em outras praias de ouro,
Te aguarda incorruptível teu tesouro:
A vasta e vaga e necessária morte.


Jorge Luis Borges, O fazedor

- Confessa, tu sabia que ela não ia querer o livro.

- Não, absolutamente.

- Ela foi grossa, disse que não queria nem de graça. Nunca ouviu falar de Luis Borges. Pensei que fosse me agredir. Porque tu mesmo não ofereceu?

- Deixa pra lá. Vamos guardar o livro e pedir uns trocados na rua.

- À noite lemos em voz alta nossas passagens prediletas, fazemos amor e amanhã tentamos vender pra outra pessoa.

- Sim, claro. Ainda está com fome?

- Passou.

Nenhum comentário: