- Confessa, tu sabia que ela não ia querer o livro. - Não, absolutamente. - Ela foi grossa, disse que não queria nem de graça. Nunca ouviu falar de Luis Borges. Pensei que fosse me agredir. Porque tu mesmo não ofereceu? - Deixa pra lá. Vamos guardar o livro e pedir uns trocados na rua. - À noite lemos em voz alta nossas passagens prediletas, fazemos amor e amanhã tentamos vender pra outra pessoa. - Sim, claro. Ainda está com fome? - Passou.
Longe do mar e da formosa guerra,
Que assim o amor todo o perdido louva,
O bucaneiro cego fatigava
Os terrosos caminhos da Inglaterra.
Escorraçado pelos cães das granjas,
Caçoada dos meninos do povoado,
Dormia um enfermiço e gretado
Sono no enegrecido pó das sanjas.
Sabia que em remotas praias de ouro
Era seu um recôndito tesouro
E isso serenava sua adversa sorte;
A ti também, em outras praias de ouro,
Te aguarda incorruptível teu tesouro:
A vasta e vaga e necessária morte.
Jorge Luis Borges, O fazedor
07 julho 2008
Blind Pew
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