15 agosto 2008

correspondência incompleta 2

Palzão,

Tu sabe que te gosto. Ponha o nome desse filho de Clarice, porque não confio nas pessoas. Posso ser exagerado, mas toda vez que estou na cozinha lavando as verduras me esquivo, olho de soslaio para minha mãe com aquele imenso facão cortando carne. A gente deve se precaver com tudo. Olha, daqui a um tempo vamos ser xingados na rua por sermos normais. Esse povo é tão sem noção... Outro dia entrei no ônibus, sentei e um bando de sapites-cafuçu entortaram o pescoço para me olhar, cochichando e rindo. Uma delas, tapada que era, tentou cantar HEY HO LET'S GO dos Ramones num inglês impossível. Enquanto isso, naquele curso de idiomas, veio a louca da coordenadora esculhambar o sistema, propondo na reunião de professores uma viadagem motivacional. Cada um chegava e dizia: "Eu sou o melhor!" O outro vinha e falava: "Sou ótimo no que faço." E depois: "Também sou perfeito!" Diz aí que quando chegou a minha vez, parei, fiquei ponderando aquela palhaçada toda né. O Léo, aquele imbecil que só se preocupa com aparência e se encosta em árvores que dão fruto$, debochou da minha reação: "Ih, ele hesitou..." Tá foda, ando com trauma de sala de aula. Estudo tanto, sacrifico minha vida a troco de uma merreca. Cansei ó, Pal. Acho que vou me mandar pra Santa Catarina me fazer por lá.


Agora vou terminar o livrinho da Sontag e tomar meu yogurte. Não tou podendo comer muita coisa sólida, extraí o ciso. Melhorei muito depois de te encontrar.

XXXXXXXXXXX

Tarco

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