14 agosto 2008

correspondência incompleta

Tarco querido

Quanto tempo não te escrevo? Séculos talvez. Estou me sentindo centenária, terna como uma avó cheia de carinho pela tua lembrança mas cínica o suficiente pra desejar manter a distância e prolongar essa sensação boa e ruim que não chega a ser saudade. Aposto no amor maduro, que tu acha? Estou apostando nessa coisa bélica, o amor, nesse momento. Quero ser invadida, saqueada, e depois me reconstruir caso haja muita destruição. Preciso disso porque no momento não consigo ter a idéia exata do que eu sou. Preciso perder o que no momento não enxergo. Sei, muito evasiva. Dormi mil horas, deve ser por isso. Estou alada. Preciso escrever um conto sobre... uma mulher obcecada por sexo e o marido brocha. Tenho tudo na cabeça. A cena toda acontece durante um jantar. Um beijo adúltero e uma penetração rápida de misericórdia na cozinha. A humilhação pública do casal na frente dos amigos. Agressões, risos, aniquilação. Parece que estou grávida e não consigo parir, não tenho forças pra expelir a criatura de dentro de mim. Um aborto depois de tantos não seria tão grave. Ou seria? Me diz qualquer coisa. Conta qualquer coisa de ti, pleeeeeease!!!

Depois continuo essa carta, ou escrevo uma outra que preste porque agora cansei. Vou ali fumar na varanda.

Pal

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