02 setembro 2008

F***

não dei sorte. fui pego em flagrante e a mulher ficou tão chocada com minha mão sorrateira dentro da bolsa dela que abriu a boca pra gritar e não saiu nada. ficou paralisada, engasgada, como se tivesse comido gesso. o ar faltava pra ela. tive pena. tão indefesa ela. gordinha, baixinha, comprimida dentro duma combinação preta, boca pequena e escarlate, corte chanel louise brooks, suor no buço, na testa. tão simpática que chegou a sorrir pra mim, por dois segundos.

quis lhe passar a mão na cabeça, pedir calma, dizer que tava tudo bem. foi mal, perdão. desculpe, não sou ladrão. só queria me divertir um pouco. eu sei, é muita falta do que fazer. vamos conversar um instante, beber alguma coisa? por favor, não grite! corri. nada nada dando certo. fazer o quê? ir pra casa. ódio. refogar uma fatia de presunto velho, encarar os olhos famintos do ades, ficar puto de tédio, ler zadie smith e dormir. preciso roubar melhor...

t
a
r
c
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2 comentários:

Hermes disse...

Isso é o que eu chamaria de vanguarda, gostei do texto. Difícil se acostumar com as lestas minúsculas, parabéns.

Gil disse...

Amigo de contos curtos... Certeiro. Saudade. Por que se cala quando ainda há algo a ser dito? Porque nem tudo precisa nem pode ser mencionado, eu mesmo respondo, seguindo minha inevitável linha egocêntrica. A vida é curta, como teu conto, mas nem por isso deve ser breve. Volte a escrever... logo...