não dei sorte. fui pego em flagrante e a mulher ficou tão chocada com minha mão sorrateira dentro da bolsa dela que abriu a boca pra gritar e não saiu nada. ficou paralisada, engasgada, como se tivesse comido gesso. o ar faltava pra ela. tive pena. tão indefesa ela. gordinha, baixinha, comprimida dentro duma combinação preta, boca pequena e escarlate, corte chanel louise brooks, suor no buço, na testa. tão simpática que chegou a sorrir pra mim, por dois segundos.
quis lhe passar a mão na cabeça, pedir calma, dizer que tava tudo bem. foi mal, perdão. desculpe, não sou ladrão. só queria me divertir um pouco. eu sei, é muita falta do que fazer. vamos conversar um instante, beber alguma coisa? por favor, não grite! corri. nada nada dando certo. fazer o quê? ir pra casa. ódio. refogar uma fatia de presunto velho, encarar os olhos famintos do ades, ficar puto de tédio, ler zadie smith e dormir. preciso roubar melhor...
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2 comentários:
Isso é o que eu chamaria de vanguarda, gostei do texto. Difícil se acostumar com as lestas minúsculas, parabéns.
Amigo de contos curtos... Certeiro. Saudade. Por que se cala quando ainda há algo a ser dito? Porque nem tudo precisa nem pode ser mencionado, eu mesmo respondo, seguindo minha inevitável linha egocêntrica. A vida é curta, como teu conto, mas nem por isso deve ser breve. Volte a escrever... logo...
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