21 outubro 2008

Pesa-me mucho

Ela é odiada porque se odeia mais que a um deus descompassado. Ela crê que se acostumará com a tristeza tal um velho à sua agonia. É cortesia da sua sina para o mundo. As lágrimas já brotam sem perceber por debaixo das horas, banham seu rosto de morta e se esvaem pelas pernas até respingar o sujo do tapete. Dá vida às olheiras roxas tal a chuva proporciona viço a uma orquídea lilás. Murcha. Emagrece a olhos vistos. Antigamente ela gritava, agora preserva o silêncio com respeito pela sua própria dexistência. Amacia os travesseiros feito arrumação de caixão de menino. Melhor coisa a fazer é dormir, é cumprir o esquecimento de todos dentro de um sonho qualquer já visitado. Ali dará sorrisos a outra alma perdida e caminhará de mãos dadas por um deserto que não a mate de sede. Ali também não sentirá a pele nem os ossos a cortar dores pelas juntas. Nenhum calcanhar, nenhum cotovelo, nem mesmo joelhos vão se dobrar como os sinos dobram. Não vai cair quem já está no chão. Ela é completo desespero porque esperar pela demora desses derradeiros dias não a cativam mais. Em cativeiro, presa só pela liberdade de anunciar aos oito ventos do infinito suas cinzas amarelas. Ela resolveu entrar em cana por vontade imprópria, na cana, sem açúcares, só álcool, e pelo cano da descarga transparente. PERIGO!

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