
Homem-mulambo. Amanheceu jogado na calçada por ele mesmo, sem lembrança nem do passado que era ontem. O que fez da semana passada, de todos os meses e anos mal sabia, fez questão de afrouxar a memória com a cabeça lavada pelo vento.
E como a tendência dos corpos pesados é a recaída, quedava-se pelo chão no momento do cansaço umas vinte e quatro vezes por dia. De tão cinza, não era visto, com o alto nublado ele se confundia, debaixo da rua repleta de pó era quase cimento.
O bom de viver dentro do cheiro do asfalto era poder esquecer um mal maior, era poder despreocupar e sorver sensações mais urgentes tais a fome ou o frio. Enganava a cabeça na vontade de comer, evaporava a saliva esfomeada no álcool enquanto uma sede encobria outra vontade. Desejo esconderijo de um novo, matadouro provisório dele mesmo. Em um ato: coragem. Esfriava a noite súbita num pretume só.
Se levantava, escorava um lado do corpo no muro de chapisco sem tamanha força para andar ereto sobre o trilho. Vagão de si próprio. Não se tratava de autoflagelo, não temia deuses possíveis nem qualquer um de seus pecados. Ralava o ombro sem queixa, pois somente este ato levaria sua alma ao outro lado, queria soerguer-se, assim o fazia.
Andava dormente de dor em busca de uma sorte, um gosto novo, seu paladar vivo de volta. Seu paladar era ferrugem. Mas andava, arrastava o pano da roupa no cascorento da parede. O acinzentado avermelhava, mudava a cor da sujeira e ficava preto. Aquele cancro grudava na pele e ele não sentia, empolava-se um rasgo, um tecido humano no outro e a ferida abria, sintética.
Levou três dias até chegar ao seu achado. Entre uma dormida, uma revolta no tempo, ele andava. Cansou da eletricidade estática da vida, ensanguesceu de todo e enfim, permaneceu na outra esquina, em outro cenário. O Homem-mulambo foi mudar de ares. Deu o braço à torcida. Hemorreu-se costurado com o pé no paraíso.
E como a tendência dos corpos pesados é a recaída, quedava-se pelo chão no momento do cansaço umas vinte e quatro vezes por dia. De tão cinza, não era visto, com o alto nublado ele se confundia, debaixo da rua repleta de pó era quase cimento.
O bom de viver dentro do cheiro do asfalto era poder esquecer um mal maior, era poder despreocupar e sorver sensações mais urgentes tais a fome ou o frio. Enganava a cabeça na vontade de comer, evaporava a saliva esfomeada no álcool enquanto uma sede encobria outra vontade. Desejo esconderijo de um novo, matadouro provisório dele mesmo. Em um ato: coragem. Esfriava a noite súbita num pretume só.
Se levantava, escorava um lado do corpo no muro de chapisco sem tamanha força para andar ereto sobre o trilho. Vagão de si próprio. Não se tratava de autoflagelo, não temia deuses possíveis nem qualquer um de seus pecados. Ralava o ombro sem queixa, pois somente este ato levaria sua alma ao outro lado, queria soerguer-se, assim o fazia.
Andava dormente de dor em busca de uma sorte, um gosto novo, seu paladar vivo de volta. Seu paladar era ferrugem. Mas andava, arrastava o pano da roupa no cascorento da parede. O acinzentado avermelhava, mudava a cor da sujeira e ficava preto. Aquele cancro grudava na pele e ele não sentia, empolava-se um rasgo, um tecido humano no outro e a ferida abria, sintética.
Levou três dias até chegar ao seu achado. Entre uma dormida, uma revolta no tempo, ele andava. Cansou da eletricidade estática da vida, ensanguesceu de todo e enfim, permaneceu na outra esquina, em outro cenário. O Homem-mulambo foi mudar de ares. Deu o braço à torcida. Hemorreu-se costurado com o pé no paraíso.
Paola Benevides
3 comentários:
olha, eu axo, verve's back. tu axa q vou abstrair tudo?
absolutely not. mário gomes! et al.
viscoso, eu gosto. keep writin' whilst I sings. wantcha
Não me refiro ao Mário Gomes, até porque nunca o vi quedado no chão, sempre trôpego, mas altivo. Eu tirei esse cara arranhado de dentro mesmo.
fricção, claro. tava te imitando fazendo relaçao direta com o "real". boba. dorei os flamincos
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