06 outubro 2009

sala de espera

ontem estive numa antesala com tv gigante, sofás de couro, revista quem, gelágua, café, e copos descartáveis em forma de colunas que lembravam os prédios da cidade - dava para ver da janela - medianos e idênticos. sinto tesão por salas de espera. desde sempre. quase sempre prefiro esperar, sentado, do que encarar o que me aguarda do outro lado da porta. assistir o movimento, a angústia crescente dos outros com o tempo se esgotando, seus planos ou compromissos desfeitos e quebrados, por motivo de força maior, força maior do que a deles, do que a minha. poucos irão acreditar ou de fato entender esta "força maior". a maioria diz que está tudo bem, essas coisas acontecem, quando na verdade, mentalmente, falam que cara-de-pau!, e sorriem com o canto da boca. sorriso que pode significar qualquer coisa, circunstancialmente, mas quase sempre é o descompasso entre o verbalizado e a verdade não dita.

quase ninguém aguenta esperar, muitos ficam putos e passam a falar alto, xingam a secretária, o atendente, que geralmente merecem um insulto bem escroto por mais que não tenham culpa pelas horas perdidas. fica o crédito para a futura rabugice e maus-tratos com quem anda de havaianas e bermudas.

ás vezes, numa sala de espera ganha-se de um(a) desconhecido(a) um sorriso gratuito que recarrega o astral muito mais do que a lya luft. esse sorrisos têm efeito semelhante ao de uma frase bem feita, seguida de outra, e mais outra, parágrafos inteiros, precisos, chegando a nos esgotar ao final, tão bom que inesquecível. se acontecer de ao sorriso seguir-se qualquer palavra, é o fim. nada do que eu disse anteriomente acontece. o grande barato é o trabalho de imaginar a possibilidade de quem sorriu puxar conversa, e inacreditavelmente transformar tudo, ser a pessoa mais interessante e gostosa do mundo. quando se fala, a realidade mata. é sempre assim. ontem, na sala, todos conversavam entre si, enquando eu desenhava bobagens usando a quem de ivete sangalo como forro, e me surpreendia em ver o conforto deles em perder algum tempo conversando entre estranhos, que nunca mais irão trocar palavra.

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