22 março 2006

Marisa



Sentada no canto do quarto com a cabeça baixa entre as pernas dobradas, Marisa olha para o chão branco tremido pelas lágrimas armazenadas na caixa do olho. Pingos se sobrepõem em respingos, logo formando uma poça. Espreme o nariz cheio ali mesmo, aumentando o pequeno lago salgado. Imaginou aquilo tudo crescendo e inundando sua cama, os móveis, seu corpo encolhido, as horas disparando seus alarmes mudos, mudando-se os dias, a grama crescendo, um dia... Pensou que poderia ter peixes naquele lago triste a respirar, a beber seu choro fácil. Mas pescar não podia, preferia lançar suas gotas lamentosas feito pedras no rio. Se o marasmo não acabar, logo surgirão ondas altas a cobrir Marisa, que não sabia nadar. Nadar é um verbo e significa "ato de não fazer nada". Bem, basta uma alteração para que tudo faça sentido.

Ela se sentia mal quando à toa, era preciso alguma atividade para perceber a sua serventia aqui no mundo. - Pensar é uma ação! Um ato individual, a sós com ela mesma parecia confiável.
Naquele momento em que sua ilha se inundava de pranto por quase todos os lados, via por outra perspectiva um mundo mais leve a boiar na superfície. Um oceano sem tubarões, raso para a criança que ainda existia dentro dela e profundo para o nado sincronizado entre a fantasia e a realidade. - Eu sei nadar, murmurou. Respirou fundo, fechou os olhos e mergulhou. Começou a mover os braços, devagar as pernas. Continuou sem medo. Era mais fácil do que imaginava... Do que imaginava?

Antes, sentada à beira, observava o seu rosto na água. Sua imagem em ação agora. - Tudo é possível, dizia uma voz interior - por isso, nada! Estava leve, deixava-se levar pela lambida doce daquele mar, como as tardes em que o vento acarinhava a pele enquanto tomava sorvete antes de o sol se pôr. Nem frio, nem calor: aconchego de brisa. Lembrou do seu nome: Marisa. E de tudo que cabia ali, o mar, a brisa... A liberdade.

Por: Paola Fonseca Benevides

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