02 dezembro 2006

AIDS e sua Metáfora

Robert Mapplethorpe foi fotógrafo novaiorquino cuja reputação e reconhecimento estavam no auge quando soube ser soro-positivo.
Era famoso por fotografar nus masculinos e femininos erótico-masoquistas e também registrar para a posteridade gente famosa e/ou rica da Big Apple. A subjetividade gay era condicionante de sua arte. Da mesma forma que Derek Jarman com seus longas Wittgenstein, Caravaggio e Eduardo II. Neste último filme observa-se certa urgência e desespero expressivo, provável consciência da limitação do seu tempo vital. Semelhante desespero preenche as páginas da autobiografia Antes que Anoiteça do cubano Reinaldo Arenas. O HIV como condicionante e contador regressivo na produção de artistas pode ser semelhante à tuberculose dos fins do século 19. No entanto o amálgama de amor, sexo (vida) e AIDS (morte) nunca foi tão bem catalisado. Caio Fernando Abreu, cuja ficção expressa muito bem essa subjetividade e condicionamento de que falo, confidencia sincero numa carta após descobrir-se infectado: "me sinto privilegiado por poder vivenciar minha própria morte com lucidez e fé." Meus heróis não morreram necessariamente de AIDS. Mas poucos males conseguiram direcionar com tanta veemência a metáfora da vida para o trágico como este vírus.
Tarco Zan

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