13 dezembro 2007

OS NOMES

Four

Éramos seis na peça da escola: Jason, Heather, Kevin, Carol, Matt, e eu. Mas no script que os professores pegaram de um catálogo, nossos personagens tinham outros nomes: Scott, Jenny, Robert, Melissa, Bill, e Larry. Era a nossa primeira vez numa peça, o mais velho de nós tinha sete anos e, para dificultar ainda mais a memorização das falas, tínhamos que aprender a renomear uns aos outros. Durante semanas ensaiamos exaustivamente, fazendo pequenos progressos. E, de última hora, nossos professores temendo um fiasco, nos disseram para esquecer os nomes fictícios e simplesmente usar nossos nomes próprios.
Mas eles tomaram essa decisão quando estávamos no auge de nossa crise referencial, e o efeito disso foi uma verdadeira confusão, que se materializou no palco numa total anarquia teatral. Nos referíamos uns aos outros com o nome que nos viesse a mente e esquecemos quase todas as falas, deixando a platéia somente com uma vaga noção do que era a peça. A performance terminou em completo caos e muitas lágrimas, nossos pais perplexos aplaudiam polidamente e os professores seguravam os rostos com as mãos, em estado de choque.
Infelizmente a confusão não terminou ali. Por semanas estivemos dispersos nas aulas, falhávamos quando professores perguntavam qualquer coisa, estávamos de mau humor e irresponsáveis em casa. Quando nos encontrávamos pelos corredores e no playground, trocávamos nossos nomes ou evitávamos até mesmo fazer menção.
Nos recuperamos, ou melhor, a maioria se recuperou. Jason casou sete vezes, e quanto a Heather, que não foi vista nos últimos vinte anos, especula-se que tenha enlouquecido. Numa dessas tardes solitárias de outono, liguei para o hospício da cidade procurando por ela, mas disseram não existir paciente com aquele nome internada por lá.

(retirado de Pieces For the Left Hand, de J. Robert Lennon)

Tradução Tarco Zan

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