21 abril 2008

Sem saída

Abriu a porta com um sorriso torto. Achava que aquilo era sexy, que a mulher gostava, porque ela dizia que gostava. Havia trazido chocolate. Adorava vê-la comendo, lambuzando-se, enquanto ele brincava dentro dela.

"Amor", entrou no quarto. "Ah", ouviu, antes de vê-la, vê-los. Um outro. Só pararam por um instante. Diante na inação do criaturo, eles continuaram, a mulher com uma certa cara de espanto, ainda esperando alguma reação, mas ligada na transa, gemendo.

"Chocolate?", disse ela, sorrindo. "É", ele respondeu, sentando num canto da cama, o olho fixo no ponto de encaixe dos dois. Ela pegou a caixa, desembrulhou um chocolate e comeu com vigor. "Esse é o Luís", apresentou ela. "Pra-a-a-zer", e o homem estendeu-lhe a mão. Cumprimentaram-se. "Cê quer vir um pouco?", emendou Luís. Ele, estupefado, pensou em várias coisas que poderia dizer, enfim levantando e deixando o quarto.

Foi o tempo de tomar um copo d'água, encher um outro e voltar. "Tó", e entregou o copo à esposa. "Cê deve tá com sêde." Depois, tirou a roupa, deitou ao lado dos dois. "Cê me ama?", perguntou. "Ah, cê tá perguntando por causa disso? É só o Luís. Só tesão. Ah!", e começou a gritar. "Claro que eu te amo", respondeu, tão logo recuperou o fôlego.

Ele fechou os olhos. Estava exausto. No dia seguinte, ao acordar, encontrou a esposa sobre o seu peito. O Luís dormia ao lado. "Bom dia", ela disse. "Agora a gente pode ser feliz, né?" "Eu te amo", ele disse, beijando-a. Transaram. Nunca mostraram tanta paixão. "Vou preparar o café", e deixou-a sob as cobertas. Já à porta, parou, virou. "Como o Luís gosta dos ovos dele?"


Gilvan Oliveira

Um comentário:

Anônimo disse...

Nem preciso dizer que me lembrei, na hora, do Bukowski, né? hehehe
Mas...como definiríamos mesmo o sujeito?
Tão bom de ler...