I
É dia, muita luz, pouco antes da modorra do meio-dia. A sombra antiga e vasta de um fícus-benjamim cai sobre a fachada da escola. João posta-se frente às grades vermelhas de ferro que limitam a sua entrada. A porteira o vê e caminha para ele. Oi, ela diz solícita e curiosa. Diante dela João não sorri, é sisudo como um estrangeiro. Você pode me chamar o Michel, por favor. João sabe da estranheza que causa, no entanto é incapaz de atenuar a expressão grave. Michel, o professor? É, João confirma e arrisca um sorriso. A porteira é simpática. Um momento, ela diz, ele não está em sala de aula mesmo.
Oi! Michel sorri disfarçando a surpresa. Convida João para sentar num banco de cimento. É rápido, João diz rispidamente, preciso que você me devolva o livro. Livro? Michel esqueceu de fato o livro de João. Emprestara a uma amiga meses depois do quero dar um tempo. Não o leu, sequer abriu suas páginas. Nossa, o seu livro! Claro, vou pôr um lembrete e amanhã te devolvo. Onde? Podemos tomar um café no... Não, João o interrompe, é melhor não. Amanhã passo aqui nesse mesmo horário. Hum, amanhã não estou aqui, Michel diz entre uma breve hesitação. Passo na tua casa e te entrego – uma última gentileza, Michel pensa. Tá certo, que horas? João pergunta, armado até os dentes. No final da tarde, Michel responde ao mesmo tempo em que se despede direcionando-se para dentro da escola. Ótimo, pode deixar com a Auri, como você sabe, não estou em casa a essa hora. João arrepende-se do comentário antes mesmo de tê-lo expelido. Oquêi, tchau, se cuida, desculpa aí não ter devolvido logo, eu esqueci total, nem li o livro, não tive tempo, tchau, tchau.
II
Dez da noite do dia seguinte. Não, ninguém veio entregar livro hoje não. João pensou dez vezes antes de ligar. Se ele tivesse ao menos lido, talvez eu deixasse o livro de presente pra ele. Não! Se ele falasse de relação já estabelecida com o meu livro eu o tomaria e o destruiria com gosto. Não, não teria coragem. Antes da relação dele o meu livro, existe a minha. Muito mais longa e intensa. Mas ele não leu, portanto, pra ele não existe relação. Nenhuma mais. Não é justo deixar pra ele qualquer coisa minha. Não ter lido o livro revela o nível de interesse dele quanto a mim. Sim, é isso, disso eu já sabia. João reage lentamente a tudo.
Irritado, João liga uma, duas vezes e depois disso o celular de Michel está fora do ar ou temporariamente desligado.
tarco
É dia, muita luz, pouco antes da modorra do meio-dia. A sombra antiga e vasta de um fícus-benjamim cai sobre a fachada da escola. João posta-se frente às grades vermelhas de ferro que limitam a sua entrada. A porteira o vê e caminha para ele. Oi, ela diz solícita e curiosa. Diante dela João não sorri, é sisudo como um estrangeiro. Você pode me chamar o Michel, por favor. João sabe da estranheza que causa, no entanto é incapaz de atenuar a expressão grave. Michel, o professor? É, João confirma e arrisca um sorriso. A porteira é simpática. Um momento, ela diz, ele não está em sala de aula mesmo.
Oi! Michel sorri disfarçando a surpresa. Convida João para sentar num banco de cimento. É rápido, João diz rispidamente, preciso que você me devolva o livro. Livro? Michel esqueceu de fato o livro de João. Emprestara a uma amiga meses depois do quero dar um tempo. Não o leu, sequer abriu suas páginas. Nossa, o seu livro! Claro, vou pôr um lembrete e amanhã te devolvo. Onde? Podemos tomar um café no... Não, João o interrompe, é melhor não. Amanhã passo aqui nesse mesmo horário. Hum, amanhã não estou aqui, Michel diz entre uma breve hesitação. Passo na tua casa e te entrego – uma última gentileza, Michel pensa. Tá certo, que horas? João pergunta, armado até os dentes. No final da tarde, Michel responde ao mesmo tempo em que se despede direcionando-se para dentro da escola. Ótimo, pode deixar com a Auri, como você sabe, não estou em casa a essa hora. João arrepende-se do comentário antes mesmo de tê-lo expelido. Oquêi, tchau, se cuida, desculpa aí não ter devolvido logo, eu esqueci total, nem li o livro, não tive tempo, tchau, tchau.
II
Dez da noite do dia seguinte. Não, ninguém veio entregar livro hoje não. João pensou dez vezes antes de ligar. Se ele tivesse ao menos lido, talvez eu deixasse o livro de presente pra ele. Não! Se ele falasse de relação já estabelecida com o meu livro eu o tomaria e o destruiria com gosto. Não, não teria coragem. Antes da relação dele o meu livro, existe a minha. Muito mais longa e intensa. Mas ele não leu, portanto, pra ele não existe relação. Nenhuma mais. Não é justo deixar pra ele qualquer coisa minha. Não ter lido o livro revela o nível de interesse dele quanto a mim. Sim, é isso, disso eu já sabia. João reage lentamente a tudo.
Irritado, João liga uma, duas vezes e depois disso o celular de Michel está fora do ar ou temporariamente desligado.
tarco
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